GIOVANA GIRARDI -
Agência Estado
A substituição da
Floresta Amazônica por pastos e plantação de soja no processo de
expansão agrícola pode ser prejudicial não só para o ambiente
como um tiro no pé da própria agricultura. Quanto mais ela se
expandir sobre a floresta, menos produtiva será. Essa é a conclusão
de um trabalho publicado hoje por pesquisadores brasileiros e um
americano, que investigaram o delicado equilíbrio entre floresta e o
clima da região e como o desmatamento pode afetá-lo.
Os pesquisadores
trabalharam com o princípio de que a floresta controla o regime
climático da região. Assim, até 2050, com o desmatamento, é
esperada uma redução no volume de chuvas. Aliada ao processo de
aquecimento global, pode resultar em uma diminuição da
produtividade de soja e pasto.
A equipe das
universidades federais de Viçosa, do Pampa, de Minas e Centro de
Pesquisa Woods Hole estimou que essa estiagem pode reduzir a
produtividade da pastagens de 30% a 34%. Já a elevação da
temperatura pode provocar uma redução no plantio de soja - de 24%,
no melhor cenário, a 28%, no pior. O número varia porque foram
considerados dois cenários - um em que a legislação ambiental é
implementada e o governo é atuante, e outro com desmatamento
intenso, semelhante ao que ocorria entre os anos 2000 e 2004, quando
a taxa anual bateu em 27%.
Os efeitos podem ser
mais sentidos nas regiões leste do Pará e no norte do Mato Grosso,
onde as mudanças na cobertura da terra poderiam afetar
dramaticamente o clima local, ao ponto em que a agricultura se torne
inviável, afirmam os autores. "Já sabíamos que, com o
desmatamento, alguns serviços ambientais desempenhados pela
floresta, como a regulação climática, seriam reduzidos. Mas em
compensação poderíamos ter uma grande produção agrícola
regional. Demonstramos que, para níveis elevados de desmatamento, o
serviço de regulação climática cai tanto que afeta
significativamente a produtividade agrícola, ou seja, você perde os
serviços prestados pela floresta e não ganha a produção
agrícola", afirma Marcos Costa, de Viçosa. A pesquisa sai hoje
na revista americana Environmental Research Letters. As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.