Instituto
Imazon detecta subida do corte raso de quase 90% nos últimos dez
meses na região
Um
levantamento independente do desmatamento da Amazônia aponta uma
inversão da tendência de queda da perda florestal que vem se
observando nos últimos anos. Em maio, o sistema de monitoramento de
imagens de satélite SAD, do instituto de pesquisa Imazon, detectou
84 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal. Um
aumento de 97% em relação a maio do ano passado, que registrou 42,5
km². Considerando o acumulado de agosto a maio, o desmatamento
totalizou 1.654 km², 89% superior ao mesmo período do ano anterior,
que somou 873 km².
Se
esse ritmo se mantiver nos meses de junho e julho, tradicionalmente
os de maior avanço do corte raso, por ser período de seca, o
desmatamento total pode passar de 6 mil km², estima Adalberto
Veríssimo, pesquisador do Imazon. Segundo ele, esses dois meses
costumam representar 30% do total. “Ao menos que nesses meses o
desmate seja excepcionalmente baixo, vai ocorrer um aumento
expressivo”, alerta.
A
avaliação, apesar de obtida a partir da análise das mesmas imagens
de satélite usadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe), não é considerada pelo governo. São os dados do Inpe que
compõem o cenário oficial de desmatamento. No início do mês, por
exemplo, o órgão apontou que o desmatamento de agosto de 2011 a
julho de 2012 (meses que marcam o início e o fim do calendário de
monitoramento) foi o menor da história do monitoramento – caiu 29%
em relação ao período anterior, chegando a 4.571 km².
O
próprio Inpe, porém, tem mostrado algumas mudanças de lá para cá.
De agosto do ano passado a fevereiro deste ano o órgão informou que
o desmatamento cresceu 26,6% (na comparação com o intervalo
ago/2011 a fev/2012). O anúncio seguinte, sobre o bimestre março e
abril deste ano, trouxe queda de 66%, sempre comparando com o mesmo
período do ano anterior. Ainda não foram divulgados os dados de
maio.
Fatores
como nuvens impedindo a visualização (bastante comuns no período
de chuvas, que vai até março) e a forma de análise das imagens,
que difere entre os dois institutos, não raro resulta em diferenças
entre os números obtidos. Mas, em geral, eles batem em relação à
tendência sobre o que está acontecendo na região. O Imazon, no
entanto, por atuar na região do Pará, também faz muitas parcerias
em campo com o governo do Estado e com o Ibama, o que permite
acompanhar de perto o que está acontecendo e também facilita a
checagem de alguns dados in loco.
“Tem
coisas que o SAD não detecta, mas em campo a gente vê. A região de
Castelo dos Sonhos, por exemplo, estava completamente coberta de
nuvens. Ninguém via nada, nem conseguia sobrevoar o local. Quando
foi possível chegar lá, se encontrou um desmatamento de 6 mil
hectares. Daqui para a frente, como a tendência é ter menos nuvens,
vamos ter uma noção melhor do estrago”, diz Veríssimo.
Ele
afirma, com base em pesquisas em campo sendo feitas pelo Imazon, que
o maior gargalo no momento é o chamado desmatamento especulativo,
principalmente nas regiões do oeste do Pará e sudeste do Amazonas.
E que ocorre mesmo debaixo de chuva, justamente porque é mais
difícil enxergar e também de a fiscalização chegar até lá.
“É
gente que derruba com a expectativa de que uma hora vai conseguir
regularizar a terra e vendê-la”, diz. “Praticamente, não se vê
mais o desmate de quem está na cadeia produtiva e quer aumentar sua
área para plantar ou pôr gado. Nesses casos, os mecanismos de
comando e controle do governo têm funcionado. Mas o governo vai ter
de mudar a estratégia, talvez deixar claro que essas áreas
desmatadas para especulação não vão nunca ser regularizadas. Aí
cria um prejuízo e pode ser que a prática estanque”, diz.