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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Monitoramento independente vê aumento de desmate na Amazônia


Instituto Imazon detecta subida do corte raso de quase 90% nos últimos dez meses na região
Um levantamento independente do desmatamento da Amazônia aponta uma inversão da tendência de queda da perda florestal que vem se observando nos últimos anos. Em maio, o sistema de monitoramento de imagens de satélite SAD, do instituto de pesquisa Imazon, detectou 84 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal. Um aumento de 97% em relação a maio do ano passado, que registrou 42,5 km². Considerando o acumulado de agosto a maio, o desmatamento totalizou 1.654 km², 89% superior ao mesmo período do ano anterior, que somou 873 km².
Se esse ritmo se mantiver nos meses de junho e julho, tradicionalmente os de maior avanço do corte raso, por ser período de seca, o desmatamento total pode passar de 6 mil km², estima Adalberto Veríssimo, pesquisador do Imazon. Segundo ele, esses dois meses costumam representar 30% do total. “Ao menos que nesses meses o desmate seja excepcionalmente baixo, vai ocorrer um aumento expressivo”, alerta.
A avaliação, apesar de obtida a partir da análise das mesmas imagens de satélite usadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), não é considerada pelo governo. São os dados do Inpe que compõem o cenário oficial de desmatamento. No início do mês, por exemplo, o órgão apontou que o desmatamento de agosto de 2011 a julho de 2012 (meses que marcam o início e o fim do calendário de monitoramento) foi o menor da história do monitoramento – caiu 29% em relação ao período anterior, chegando a 4.571 km².
O próprio Inpe, porém, tem mostrado algumas mudanças de lá para cá. De agosto do ano passado a fevereiro deste ano o órgão informou que o desmatamento cresceu 26,6% (na comparação com o intervalo ago/2011 a fev/2012). O anúncio seguinte, sobre o bimestre março e abril deste ano, trouxe queda de 66%, sempre comparando com o mesmo período do ano anterior. Ainda não foram divulgados os dados de maio.
Fatores como nuvens impedindo a visualização (bastante comuns no período de chuvas, que vai até março) e a forma de análise das imagens, que difere entre os dois institutos, não raro resulta em diferenças entre os números obtidos. Mas, em geral, eles batem em relação à tendência sobre o que está acontecendo na região. O Imazon, no entanto, por atuar na região do Pará, também faz muitas parcerias em campo com o governo do Estado e com o Ibama, o que permite acompanhar de perto o que está acontecendo e também facilita a checagem de alguns dados in loco.
Tem coisas que o SAD não detecta, mas em campo a gente vê. A região de Castelo dos Sonhos, por exemplo, estava completamente coberta de nuvens. Ninguém via nada, nem conseguia sobrevoar o local. Quando foi possível chegar lá, se encontrou um desmatamento de 6 mil hectares. Daqui para a frente, como a tendência é ter menos nuvens, vamos ter uma noção melhor do estrago”, diz Veríssimo.
Ele afirma, com base em pesquisas em campo sendo feitas pelo Imazon, que o maior gargalo no momento é o chamado desmatamento especulativo, principalmente nas regiões do oeste do Pará e sudeste do Amazonas. E que ocorre mesmo debaixo de chuva, justamente porque é mais difícil enxergar e também de a fiscalização chegar até lá.
É gente que derruba com a expectativa de que uma hora vai conseguir regularizar a terra e vendê-la”, diz. “Praticamente, não se vê mais o desmate de quem está na cadeia produtiva e quer aumentar sua área para plantar ou pôr gado. Nesses casos, os mecanismos de comando e controle do governo têm funcionado. Mas o governo vai ter de mudar a estratégia, talvez deixar claro que essas áreas desmatadas para especulação não vão nunca ser regularizadas. Aí cria um prejuízo e pode ser que a prática estanque”, diz.

‘Mudanças climáticas trarão inquietação a todo o mundo’


Frequentemente no jornalismo somos instados a tratar da vida real do leitor. Pois, na minha opinião, não existe nada mais vida real do que as mudanças climáticas, apesar de muita gente achar que se tratam somente de simulações que mostram problemas que vão ocorrer, quem sabe, no final deste século – quando a maioria dos viventes já não estará mais aqui pra contar história. Sem se lembrar dos milhares de eventos extremos que ocorrem todos os anos e que a ciência diz que são indicativos do aquecimento global que já estamos vivenciando.
A tendência é só piorar.
Diversos estudos novos lançados desde o final do ano passado mostram que no ritmo com o qual o mundo está lidando com suas emissões de gases de efeito estufa, a temperatura média até o final do século pode ser 4°C maior que a o planeta tinha no início da Revolução Industrial. Suficiente para que os estragos atuais sejam comparados a mera garoa de fim de tarde.
Publico abaixo uma entrevista que fiz na quinta passada com a costa-riquenha Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção do Clima da ONU, que esteve no Brasil para alinhar com o governo sua posição nas negociações internacionais.
O órgão coordena as famosas COPs (Conferência das Partes), encontros anuais que reúnem 192 países com o objetivo de tentar elaborar um acordo até 2015 para reduzir as emissões de gases de efeito estufa a fim de evitar um aquecimento superior a 2°C até o final do século, aumento considerado limite para evitar as mudanças mais catastróficas. São reuniões que tendem a parecer bastante frustantes, mas ainda são a melhor maneira de chegar a um acordo sobre o qual todas as nações tenham voz e estejam dispostas a segui-lo. O grande problema é que é tudo lento. Muito lento.
Se o mundo não enfrentar a mudança climática em tempo hábil, os tipos de desafios subjacentes à inquietação que estamos vendo no Brasil serão exacerbados em todo o mundo”, me disse Christiana. Uma ideia cogitada enquanto via Brasília tomada pela população. Nas COPs sempre há um protesto ou outro, mas nada que tenha parado a cidade sede, por exemplo. Em Doha, Catar, no ano passado, o povo foi às ruas pela primeira vez na história do país justamente para pedir ação. Foi bastante simbólico para eles, mas discreto. Veja aqui.
Protesto na COP em Doha, no final de 2012, pediu ação do povo árabe. Crédito: Giovana Girardi
No ano passado, na Rio+20, também houve algumas manifestações. Leves, no entanto, perto do que estamos vivenciando agora. Realmente seria bem bacana se o povo tomasse cidades do mundo inteiro pedindo redução das emissões já! Como a própria Christiana lembra, a melhoria do transporte coletivo também tem isso como consequência. Veja a seguir a entrevista:
Nos últimos anos, todas as conferências do clima da ONU terminam com a sensação de fracasso. Os países ainda não parecem estar decididos a fazer reduções mais expressivas de suas emissões. E a situação climática só tem piorado. Em maio, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera ultrapassou a marca perigosa de 400 ppm. A sra. ainda acredita que o mundo conseguirá se manter abaixo dos 2°C de aumento da temperatura?
Muitos estudos de fato dizem exatamente o mesmo: se seguirmos no passo em que estamos, não vamos ficar em 2°C, mas chegar a 3,6°C ou 4°C. Porém, todos os estudos também dizem que esse não é o final da história. A verdade é que temos as tecnologias e temos o capital para mudar a projeção das emissões de gases. Podemos ficar nos 2°C se houver vontade política coletiva. Acho que os países estão caminhando na direção correta, mas não na velocidade que é necessária. Mas mais recentemente os governos têm se dado conta de que sozinhos não vão poder solucionar isso e estão abrindo espaço para todos que possam contribuir com uma solução. Muitas cidades do mundo têm levado a cabo projetos impressionantes de mitigação e adaptação e que são mais ousados do que tem se logrado em nível nacional. Ao dar reconhecimento a esses esforços sub-nacionais, se começa a formar um círculo virtuoso de abertura de espaço político para que os governos nacionais possam chegar ao acordo.
Recentemente alguns países criaram o “clube das renováveis” para incentivar iniciativas nesse sentido. É desse tipo de atitude a que a sra. se refere?
Esse clube de renováveis que se formou é exatamente uma das iniciativas a que eu fiz alusão. Além das soluções sub-nacionais, há muitas internacionais, como a desse caso. É um grupo de países que entendem que ter uma participação maior das renováveis na matriz energética não só contribui para reduzir a mudança climática como contribui para sua segurança econômica e energética. É algo que tem de se fomentar porque se a motivação é dupla – tanto fortalecer a economia nacional quanto contra o câmbio climático –, então existem mais possibilidade de jogar a uma velocidade de solução que é necessária. Por isso está havendo um grande esforço de reconhecer esse tipo de aliança e iniciativa.
Qual foi o principal motivo de sua viagem ao Brasil? Que papel a sra. espera que o País poderá desempenhar nas negociações para ajudar as outras nações a chegar a um novo acordo climático?
Acredito que o Brasil pode desempenhar vários papéis. O primeiro, claro, é de baixar suas emissões mais do que já fez.O Brasil já fez um grande esforço, sobretudo em reverter o desmatamento, e nisso é um exemplo no mundo em algo que parecia inviável. Mas ainda há outros setores que o Brasil têm potencial de reduzir suas emissões. Assim como todos os outros países do mundo. Nenhum deles está baixando todas as emissões que pode. Todos têm de fazer um esforço maior. Ao fazer esse esforço, o Brasil pode servir como modelo para outros países emergentes, exportando a capacidade e a tecnologia com as quais tem baixado suas emissões. Em terceiro, há um papel que o Brasil pode desempenhar nas negociações, construindo uma ponte entre os países industrializados, que têm responsabilidade histórica pela alta concentração de CO2 na atmosfera, e os em desenvolvimento, que têm responsabilidade futura. O Brasil está justamente no meio desses dois universos.
Nesta reunião, houve algum pedido para que o Brasil faça mais?
Não, o Brasil tem estado sempre comprometido com o tema das mudanças climáticos e tem desempenhado um papel nas negociações. Mas se trata de seguir buscando oportunidades. Há espaço para fazer muito mais, como no setor energético, mantendo sua matriz limpa e aumentando a eficiência energética. E no agrícola, porque há uma grande quantidade de práticas que podem reduzir as emissões do setor. Além de atuar no manejo de resíduos sólidos nas grandes cidades, em que também há oportunidades para baixar as emissões de metano.
A sra. chegou à Brasília bem no meio de calorosos protestos causados em boa parte por insatisfação com o governo. Acredita que a falta de ações mais ousadas de todos os países contra as mudanças climáticas pode acabar provocando, um dia, este tipo de mobilização?
Acho que se o mundo não enfrentar a mudança climática em tempo hábil, os tipos de desafios subjacentes à inquietação que estamos vendo no Brasil serão exacerbados em cada país. Ao mesmo tempo, é importante notar que algumas das medidas que devem ser tomadas para enfrentar as mudanças climáticas, como um transporte mais sustentável, também pode ajudar a melhorar a qualidade de vida, especialmente nas grandes cidades em todo o mundo.


Obama lança plano de combate às mudanças climáticas

Presidente propôs ações em três frentes: reduzir as emissões de gases de efeito estufa para produção de energia; preparar os EUA para mudanças futuras e liderar esforços internacionais
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, propôs nesta terça-feira, 25, uma série de medidas para combater as mudanças climáticas. Em discurso na Universidade Georgetown, ele propôs ações em três frentes: reduzir as emissões de gases de efeito estufa da produção de energia; preparar o país para as mudanças que vão ocorrer e liderar os esforços internacionais para que o mundo encontre uma forma de lidar com a questão.
Na semana passada, em Berlim, dando pistas do que estava por vir, Obama afirmou que as mudanças climáticas são a “ameaça global do nosso tempo” e prometeu ações para evitá-la.
Hoje destacou a "obrigação moral" que sente em iniciar a implementação de políticas avançadas que possam conter as emissões de gases de efeito estufa nos Estados Unidos e no exterior, na falta da uma legislação vinda do Congresso.
Mesmo sem citar metas numéricas, anunciou a adoção de padrões mais rígidos para usinas de energia novas e antigas. O projeto também inclui mais apoio federal para desenvolvimento e eficiência energética de combustíveis fósseis, além do rompimento de barreiras comerciais para produtos de energia limpa e impulsionar a cooperação bilateral climática com grandes economias como a China, Índia e Brasil.
Também ordenou que a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) "estabeleça padrões de poluição por carbono tanto para usinas de energia novas quanto para as já existentes", em conjunto com os Estados, a indústria de energia e outras partes interessadas.