Painel da ONU divulgou quinto relatório sobre o clima .IPCC considera responsabilidade humana 'extremamente provável'.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, IPCC na sigla em
inglês, divulgou nesta sexta-feira (26) um novo relatório que aumenta o
grau de certeza dos cientistas em relação à responsabilidade do homem
no aquecimento global.
Chamado de "Sumário para os Formuladores de Políticas", o texto afirma que há mais de 95% (extremamente provável) de chance de que o homem tenha causado mais de metade da elevação média de temperatura registrada entre 1951 e 2010, que está na faixa entre 0,5 a 1,3 grau - a edição anterior falava em mais de 90%.
Chamado de "Sumário para os Formuladores de Políticas", o texto afirma que há mais de 95% (extremamente provável) de chance de que o homem tenha causado mais de metade da elevação média de temperatura registrada entre 1951 e 2010, que está na faixa entre 0,5 a 1,3 grau - a edição anterior falava em mais de 90%.
O documento apresentado em Estocolmo, na Suécia, em conferência
científica realizada ao longo desta semana, mostra também que o nível
dos oceanos aumentou 19 centímetros entre 1901 e 2010, e que as
concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso
aumentaram para "níveis sem precedentes em pelo menos nos últimos 800
mil anos".
O novo relatório diz ainda que há ao menos 66% de chance de a
temperatura global aumentar pelo menos 2 ºC até 2100 em comparação aos
níveis pré-industriais (1850 a 1900), caso a queima de combustíveis
fósseis continue no ritmo atual e não sejam aplicadas quaisquer
políticas climáticas já existentes.
Os 259 pesquisadores-autores de várias partes do mundo, incluindo o
Brasil, estimam ainda que, no pior cenário possível de emissões, o nível
do mar pode aumentar 82 centímetros, prejudicando regiões costeiras do
planeta, e que o gelo do Ártico pode retroceder até 94% durante o verão
no Hemisfério Norte (veja abaixo uma tabela com os eventos climáticos
possíveis, segundo os cientistas).
Trata-se da primeira parte de um conjunto de dados que servirá de base
para as negociações climáticas internacionais. A última versão saiu em
2007, quando o estudo rendeu ao painel de especialistas o Prêmio Nobel
da Paz. O primeiro capítulo divulgado nesta sexta, de um total de três,
aborda A Base das Ciências Físicas. As demais partes serão publicadas em
2014.
Aquecimento quase certo
Os cientistas tratam como fato o aumento médio de 0,85 ºC na temperatura global entre 1880 e 2012 e que é “muito provável” que desde 1950 houve redução de dias e noites mais frios e aumento de dias e noites mais quentes em todo o planeta.
A temperatura da superfície do oceano teve aumento de 0,11 ºC por década entre 1971 e 2010, e a água marinha está mais ácida, fator que pode prejudicar o ecossistema.
Os cientistas tratam como fato o aumento médio de 0,85 ºC na temperatura global entre 1880 e 2012 e que é “muito provável” que desde 1950 houve redução de dias e noites mais frios e aumento de dias e noites mais quentes em todo o planeta.
A temperatura da superfície do oceano teve aumento de 0,11 ºC por década entre 1971 e 2010, e a água marinha está mais ácida, fator que pode prejudicar o ecossistema.
Um ponto considerado polêmico do documento, o chamado "hiato" da
mudança climática, foi mantido. O trecho explica que houve uma
"desaceleração" no aumento da temperatura global entre 1998 e 2012, com
taxa de aquecimento de 0,05 ºC por década, enquanto que período entre
1951 e 2012, essa taxa era de 0,12 ºC. Para o IPCC, esta desaceleração
sentida não significa uma mudança de curso no aquecimento do planeta.
Ao avaliar quatro cenários de emissões de gases, o IPCC fez previsões de que até 2100 a temperatura no planeta pode aumentar entre 0,3 ºC e 1,7 ºC (no cenário mais brando, com menos emissões e políticas climáticas implementadas) e entre 2,6 ºC 4,8 ºC se não houver controle do lançamento de gases-estufa.
Ao avaliar quatro cenários de emissões de gases, o IPCC fez previsões de que até 2100 a temperatura no planeta pode aumentar entre 0,3 ºC e 1,7 ºC (no cenário mais brando, com menos emissões e políticas climáticas implementadas) e entre 2,6 ºC 4,8 ºC se não houver controle do lançamento de gases-estufa.
O relatório aponta também que é forte a evidência de que as camadas
polares e glaciares do Ártico e Antártica têm perdido massa de gelo e
reduzido sua extensão oceânica.
O texto diz que são “altamente confiáveis” as informações de que a
Groenlândia e a Antártica perderam massa de gelo nas últimas duas
décadas e que já há migração de ecossistema terrestre para áreas onde o
frio predominava (e não havia chance de sobrevivência da maioria dos
tipos de vegetais).
“O mais importante é que o gelo fora da região antártica continua com
ritmo acelerado de derretimento e, principalmente, as geleiras não
polares (encontradas em montanhas) continuam a reduzir rapidamente e a
contribuir para o aumento do nível do mar”, explicou o glaciologista
brasileiro Jefferson Simões, um dos revisores da parte que aborda as
massas de gelo do planeta.
“Agora nós temos muito mais dados e um detalhamento maior, que possibilita que as previsões sejam corrigidas”, complementa.
Maior emissão de gases
Um dos dados apresentados pelo IPCC aponta que foi registrado um aumento de 43% na forçante radiativa entre 1985 e 2011.
Um dos dados apresentados pelo IPCC aponta que foi registrado um aumento de 43% na forçante radiativa entre 1985 e 2011.
A forçante radiativa é um índice que estima impactos climáticos
causados pelo desequilíbrio entre as radiações solares absorvidas pela
Terra e o calor devolvido pelo planeta à atmosfera, aquecendo-a. Essa
troca de energia equilibrada garante uma temperatura global estável.
No entanto, uma maior emissão de gases e aerossóis pelo homem por conta
de queimadas, desmatamento e queima de combustíveis fósseis
(principalmente CO2) tem elevado a forçante e, consequentemente, retido
uma maior quantidade de calor no planeta.
Segundo Paulo Artaxo, físico da Universidade de São Paulo e um dos
coautores do capítulo divulgado, o aumento representa a elevação das
concentrações de gases de efeito estufa “que continuam a subir
rapidamente”.
Mares mais altos
De acordo com o IPCC, é muito provável que o nível do mar aumente no século 21 em todos os cenários de emissões estudados pelos cientistas. A elevação seria causada pelo aumento do degelo na região da Antártica e do Ártico.
No cenário mais brando, em que há corte de emissões e políticas climáticas, o nível do mar pode subir entre 26 centímetros e 55 centímetros até 2100. Já no pior cenário, com altas emissões de gases-estufa e não cumprimento de regras para a redução delas, o nível do mar aumentaria entre 45 centímetros e 82 centímetros.
Mares mais altos
De acordo com o IPCC, é muito provável que o nível do mar aumente no século 21 em todos os cenários de emissões estudados pelos cientistas. A elevação seria causada pelo aumento do degelo na região da Antártica e do Ártico.
No cenário mais brando, em que há corte de emissões e políticas climáticas, o nível do mar pode subir entre 26 centímetros e 55 centímetros até 2100. Já no pior cenário, com altas emissões de gases-estufa e não cumprimento de regras para a redução delas, o nível do mar aumentaria entre 45 centímetros e 82 centímetros.
O IPCC faz a previsão também de que 95% da totalidade do oceano tem
probabilidade alta de aumentar o seu nível e que 70% das regiões
costeiras do planeta sofrerão com o avanço do mar.
“É importante salientar que algumas regiões do globo podem ter aumento
maior que este e outras regiões aumentos menores, pois este valor é uma
média global”, afirma Artaxo.
Credibilidade em xeque
Vazamento de e-mails com conversas entre autores, debatendo possíveis exageros presentes no relatório, ou até mesmo erros cometidos, como a conclusão de que as geleiras nas montanhas do Himalaia derretiam mais rápido do que as outras do mundo e "poderiam desaparecer até 2035, ou antes” – dado que o IPCC considerou um “lamentável erro” – levantou um debate sobre a credibilidade da instituição.
Vazamento de e-mails com conversas entre autores, debatendo possíveis exageros presentes no relatório, ou até mesmo erros cometidos, como a conclusão de que as geleiras nas montanhas do Himalaia derretiam mais rápido do que as outras do mundo e "poderiam desaparecer até 2035, ou antes” – dado que o IPCC considerou um “lamentável erro” – levantou um debate sobre a credibilidade da instituição.
O fato alimentou a opinião de céticos em relação às mudanças
climáticas. Mas, para cientistas brasileiros envolvidos na elaboração do
documento e ouvidos pelo G1, foram problemas pontuais que não diminuíram a “confiabilidade científica” do painel.
"Houve uma mudança na forma de trabalhar, os capítulos foram enviados
para revisão internacional. Esperamos um grande impacto deste relatório
nos formuladores de políticas", afirma José Marengo, pesquisador do
Centro de Ciência do Sistema Terrestre, ligado ao Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe).
O pesquisador, que é um dos editores do capítulo divulgado, duvida que a
confiabilidade científica do texto do IPCC tenha diminuído. "O fato de
que há críticos por aí não significa que está errado ou cheio de
problemas", disse.
“A credibilidade não é colocada em dúvida por causa de questões menores
perto de milhares de aspectos acertados no relatório. Sempre é possível
que pequenos deslizes ocorram em qualquer tipo de trabalho, mas isso
não tira o brilho de uma extensa análise feita por milhares de
cientistas”, afirmou Paulo Artaxo.
O homem e o clima As conclusões do novo relatório do IPCC sobre os eventos climáticos |
|||
---|---|---|---|
Eventos climáticos | Já aconteceram mudanças? |
O homem contribuiu para essas mudanças? | Probabilidade de que ocorram mais mudanças até o fim do século 21 |
Dias mais quentes ou menos dias frios na maioria das áreas terrestres |
Muito provável |
Muito provável |
Praticamente certo |
Aumento de ondas de calor |
Média confiança |
Provável |
Muito Provável |
Aumento de chuvas fortes |
Provavelmente haverá mais áreas com aumento do que com diminuição. Muito provavelmente na América do Norte central |
Média confiança* |
Muito Provável |
Aumento da intensidade ou duração das secas |
Baixa confiança em escala global |
Baixa confiança* |
Provável (com média confiança) |
Aumento na atividade de ciclones tropicais |
Baixa confiança em mudanças de longo prazo* |
Baixa confiança* |
Mais provável que ocorra do que que não ocorra |
Aumento do nível do mar |
Provável |
Provável* |
Muito provável |
* Expressa o nível de confiança dos cientistas, com base nas informações disponíveis e no grau de concordância entre os especialistas a respeito de cada tema |