Na Indonésia, por
exemplo, moratória decretada em 2011 para proteger as áreas não
deu resultados
Gilles Lapouge - O
Estado de S. Paulo
PARIS - Enquanto a
Europa está saindo aos poucos de um inverno extraordinariamente
gélido, o aquecimento do clima agrava-se em todo o globo, e o
aumento do CO² e das temperaturas constituirá, com toda a certeza,
a maior ameaça do mundo a partir de 2050.
Na parafernália de
instrumentos de que os homens dispõem para frear o aquecimento estão
evidentemente as florestas. Entretanto, apesar das conferências, das
promessas, das sanções e do imenso sistema de proteção criado ao
longo dos anos, constatamos que o massacre das florestas tropicais,
longe de se reduzir, avança sem parar. Principalmente nas zonas
tropicais.
Hoje podemos citar dois
exemplos. O da Indonésia, em primeiro lugar. Em maio de 2011, o país
decretou uma moratória visando proteger suas florestas primárias e
suas turfeiras, isto é, 43 milhões de hectares. E para estimulá-la
a cumprir sua promessa, a Noruega comprometeu-se a fornecer-lhe US$ 1
bilhão.
Hoje, verificamos que a
moratória de 2011 não serviu para nada. Encorajada pela fortuna
representada pelo óleo de palma e pela devoradora indústria do
papel, a Indonésia, longe de deter o desaparecimento de suas
florestas, conseguiu destruí-las, ao ritmo de 500 mil a 1 milhão de
hectares (no mínimo) ao ano.
O presidente indonésio,
Susilo Banbang Yudhoyono, anunciou na quarta-feira que imporá a
moratória de 2011 por mais dois anos, apesar dos gritos enfurecidos
dos fabricantes de óleo de palma (a Indonésia é a maior produtora
mundial). Uma notícia auspiciosa, sem dúvida. Mas, diante dos
exploradores descarados e impunes do "tesouro verde", terá
o governo de Jacarta a energia e os meios para intimidar os
destruidores de árvores?
Outro exemplo está na
África. Moçambique, país que saiu totalmente esgotado de uma longa
guerra irreparável, possui recursos florestais fabulosos nas
províncias de Sofala, Zambézia e Cabo Delgado. Ali, apesar das
promessas oficiais, as florestas simplesmente evaporam. Ocorre que
existe um consumidor de madeira moçambicana dotado de um apetite
feroz, insaciável, a China.
Somente na província
de Zambézia, desaparecem anualmente 219 mil hectares de florestas
desde 2008. Ao redor dos compradores chineses surgiu todo um sistema
ilegal. E este sistema ilegal é mais poderoso, melhor gerido e mais
profissional, do que o sistema legal encarregado de proteger o
tesouro contra os predadores.
Os traficantes entram
em contato com as autoridades locais e obtêm o sinal verde. Mandam
então os "pisteiros" na floresta para descobrirem as
árvores preciosas. Em seguida, recrutam os chamados "pingo-pingo"
para derrubá-las. Vem então o próximo passo. Para exportar a
madeira, são necessárias três autorizações: as da alfândega,
dos serviços florestais provinciais e dos ministérios da Indústria
e do Comércio. Mas nada de pânico. Os traficantes afirmam que basta
ter paciência. E eles são pacientes.
De uma extremidade à
outra da cadeia, há falcatruas e corrupção para exportar as
madeiras protegidas. O jornal O país, de Maputo, revela que,
recentemente, uma imensa carga de madeira marcada com giz (e não com
tinta indelével, conforme prescreve o regulamento) anunciava
espécies de segunda categoria. Na realidade, tratava-se de Berchemia
zeyheri, uma variedade ultra protegida.
Nos anos 80, na
circunscrição de Massaca, não muito longe da capital, a floresta
cobria todo o território. "A aldeia ainda não existia",
conta Antonio Cosa, funcionário da cidade de Boane. "Só havia
árvores, em toda parte, e algumas carvoarias para uso local. Hoje,
não sobra uma úncia árvore".
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